Amálgama, tema que não cala!
A afirmação da Sra. White acerca do
amálgama entre seres humanos e bestas era, não só uma das mais controvertidas
que ela já fez por escrito, mas também uma das mais embaraçosas para a igreja.
Em 1864, a Sra. White escreveu o seguinte:
"Mas se há um
pecado acima de todo outro que atraiu a destruição da raça pelo dilúvio, foi o
aviltante crime de amálgama de homem e besta que deturpou a imagem de Deus e
causou confusão por toda parte."
"Toda espécie de
animal que Deus criou foi preservada na arca. As espécies confusas que Deus não
criara, resultantes da amálgama, foram destruídas pelo dilúvio. Desde o
dilúvio, tem havido amálgama de homem e besta como pode ser visto nas quase
infindáveis variedades de espécies animais e em certas raças de homens."
Nestas afirmações, a Sra. White
descreve o amálgama como "um pecado" bastante grave para requerer
"a destruição" da raça humana. Ela diz que era um "aviltante
crime," que "deturpou a imagem de Deus." Diz que ocorreu tanto
antes como depois do "dilúvio", e que seus efeitos podem ser vistos
"em certas raças de homens."
A afirmação da Sra. White parece
indicar que ela cria que a união sexual entre seres humanos e bestas antes e
depois do dilúvio produziu espécies diferentes, amalgamadas. Este era um antigo
mito que circulava entre pessoas incultas no século dezenove, mas que não tem
base científica. Na realidade, a ciência tem demostrado que é impossível que a
união entre seres humanos e animais produza descendência.
O fato de que o mito do amálgama
circulava em princípios do século dezenove é corroborado pelo fictício Livro de
Jaser, publicado em 1844 – um livro que alguns dizem que a Sra. White usou para
extrair material para seus livros (ver o capítulo anterior). No relato do livro
sobre a época antediluviana, encontramos estas palavras:
“E seus juízes e governantes iam às
filhas dos homens, e pela força lhes tiravam as esposas aos maridos, segundo
lhes parecia, e naqueles dias os filhos dos homens tomavam o gado da terra, as
bestas do campo, e as aves do céu, e ensinavam a mescla de umas espécies de
animais com outras...”
Sem se levar em conta as fontes, as
afirmações da Sra. White deram lugar a algumas perguntas sérias. Por exemplo:
Que raça é resultado do amálgama? A Sra. White disse que os resultados do
amálgama podem ser vistos "em certas raças de homens." As pessoas
começaram a perguntar: Quais raças são o resultado da amálgama?
As acerbas críticas contra Ellen White
na década de 1860 obrigaram os dirigentes da igreja a tentar defender sua
profetisa. Em 1868, quatro anos depois que as afirmações sobre amálgama
apareceram impressas pela primeira vez, o dirigente adventista Urias Smith (que
nesse tempo professava crer em Ellen White como profetisa) publicou sua ardente
defesa de Ellen White. Nesse livro, Smith conjecturava que a união entre seres
humanos e bestas havia criado raças como as dos "bosquímanos da África,
algumas tribos de hotentotes, e talvez os índios digger de nosso próprio país,
etc."
Tiago White revisou "cuidadosamente"
o livro de Smith, antes que ele fosse publicado, e a seguir o recomendou em
termos entusiásticos aos leitores da revista oficial da igreja, Review and
Herald:
"A Associação acaba de publicar um
panfleto intitulado The Visions of Mrs. E. G. White, A Manifestation of
Spiritual Gifts According to the Scriptures [As Visões da Sra. E. G. White, uma
manifestação dos dons espirituais segundo as Escrituras]. É escrito pelo
redator da Review. Enquanto lia cuidadosamente o manuscrito, senti-me muito
grato a Deus por nosso povo poder ter essa apta defesa daqueles pontos de vista
tão amados e entesourados, enquanto outros os desprezam e a eles se opõem. Este
livro está destinado a ter ampla circulação. — Tiago White.”
Tiago White explica com abundância de
detalhes que Smith não publicou este livro sem uma cuidadosa revisão. É
inconcebível que as afirmações acerca dos índios e bosquímanos da África
passassem desapercebidas a Tiago White. Seu respaldo do livro indica que aprovava
a explicação. Na realidade, porque estabelecia as afirmações da Sra. White,
Tiago e Ellen levaram 2.000 exemplares do livro de Smith consigo para
oferecê-los durante as reuniões ao ar livre [campais] aquele ano! Ao promover e
vender o livro de Smith, os White puseram seu selo de aprovação a essa
explicação da afirmação sobre o amálgama.
Apesar de que a explicação a respeito
"dos bosquímanos da África" era o bastante boa para os White e para
Smith, com o tempo perdeu favor com os dirigentes adventistas do sétimo dia. A
afirmação voltou a ser publicada em 1870 no livro Spirit of Prophecy, Vol. 1, e
continuou causando controvérsia. Tornava-se mais e mais difícil explicar essas
afirmações dentro de uma denominação mais e mais educada e racialmente tolerante.
Conquanto Tiago e Ellen White, Urias
Smith, o filho dela, W. C. White, e sua secretária, D. D. Robinson, nunca
tivessem dúvidas de que, ao escrever, Ellen havia tido em mente o cruzamento
entre seres humanos e animais, os ulteriores defensores da Sra. White em anos
recentes empreenderiam grandes esforços para tentar convencer as pessoas de que
o amálgama se referia ao matrimônio entre as raças – seres humanos com seres
humanos. Contudo, esta explicação dava lugar a mais perguntas do que respostas.
Como poderia o casamento entre as raças humanas desfigurar a imagem de Deus no
homem? Como poderia um ser humano (criado à imagem de Deus) casado com outro
ser humano (criado à imagem de Deus) deturpar a imagem de Deus? Se o matrimônio
entre raças é "pecado" e "um aviltante crime," então por
que nunca é assim descrito Bíblia? Muitos eruditos bíblicos creem que Zípora, a
esposa de Moisés, era de uma raça diferente. Eram os filhos de Moisés, uma
espécie amalgamada? Nesse caso, porque ofereceu Deus fazer dos filhos de Moisés
uma grande nação? Por que não os destruiu Deus por cometer um crime aviltante?
Um crime aviltante é um ato de
imoralidade vil. A Sra. White usa a frase "aviltante crime" só noutra
ocasião em seus escritos. Usou a frase para descrever o vil intento da mulher
de Potifar de cometer adultério com o jovem José. Como poderiam as relações
matrimoniais entre as raças ser descritas como crimes vis ou aviltantes? Desde
quando são crimes infames as relações sexuais entre os membros humanos de um
casal no matrimônio? Não honra a Deus o matrimônio sejam ou não ambos da mesma
raça ou religião? A Bíblia é muito clara em que as relações sexuais entre seres
humanos e animais é um crime vil e infame. Esse crime é condenado na Bíblia
como abominação (Levítico 18:23, 20:16) merecedora da pena de morte. O fato de
que a Sra. White descreve o amálgama como um aviltante crime é evidência
irrefutável de que ela se referia à bestialidade, não ao matrimônio entre seres
humanos de diferentes antecedentes raciais.
Surgiram mais perguntas em vista da
afirmação da Sra. White de que o amálgama foi a principal razão do dilúvio. Se
a Sra. White está certa ao dizer que o amálgama era "um pecado acima de
todo outro que atraiu a destruição da raça" por que esse pecado nunca foi
mencionado em Gênesis? Moisés menciona os pecados de corrupção e violência
(Gên. 6:11-13), mas nunca o de amálgama. É de se pensar que, se o amálgama foi
"um pecado acima de todo outro" que trouxe o dilúvio, Moisés pelo
menos o teria mencionado! Como pôde ter-se esquecido desse horrendo pecado sem
mencioná-lo?
A afirmação tornou-se tão controversa
que finalmente decidiu-se omiti-la quando o livro foi reimpresso em 1890 sob o
título de Patriarcas e Profetas. Depois de ter o livro sido publicado, alguns
adventistas observaram que faltavam as afirmações. A muitos isso pareceu uma
admissão de que as afirmações eram realmente falsas. Os crentes na Sra. White
perguntavam por que essas afirmações "inspiradas" haviam sido
eliminadas da edição seguinte do livro. Se as afirmações acerca do amálgama
eram certas, por que não foram deixadas no livro? Por que foram removidas? Se
este pecado causou o dilúvio, as pessoas deviam inteirar-se disso para não
repeti-lo.
Se os bosquímanos da África são o
resultado da união entre seres humanos e animais, as pessoas têm o direito de
saber. Que precedentes há para eliminar os escritos de um profeta? Nenhum dos
profetas bíblicos teve que retroceder e alterar seus escritos para retirar
afirmações. Por que tinha que fazê-lo a Sra. White?
A eliminação das afirmações relativas
ao amálgama criou tal controvérsia que o White Estate decidiu ser importante
proporcionar uma explicação das omissões. O filho de Ellen, W. C. White, tenta
dar a explicação:
"Com relação aos dois parágrafos
que se encontram em Spiritual Gifts e também em The Spirit of Prophecy
concerentes ao amálgama, e a razão por que foram omitidos dos livros
posteriores, e a pergunta quanto a quem assumiu a responsabilidade de
omiti-los, posso falar com perfeita clareza e segurança. Foram omitidos por
Ellen G. White. Ninguém relacionado com sua obra tinha qualquer autoridade
sobre esse assunto, e nunca ouvi que alguém lhe oferecesse conselho em relação
com isso.”
"Em todas as questões desse tipo,
pode ter a certeza de que a irmã White era responsável por omitir ou
acrescentar as questões desse tipo em edições posteriores de nossos livros.”
"A Sra. White não só tinha bom
juízo baseado numa compreensão clara e abarcante das condições e as
consequências naturais de publicar o que escrevia, como muitas vezes recebia
instruções diretas do anjo do Senhor em relação com o que devia ser omitido ou
acrescentado nas novas edições."
Nessa carta, W. C. White nos informa
que é provável que um anjo dera instruções a Ellen White para omitir as afirmações
sobre o amálgama na edição seguinte do livro. Isto dá lugar a outra pergunta:
Por que não lhe deu o anjo instruções para omitir as linhas antes que fossem
publicadas no primeiro livro? Com certeza, isto teria evitado muitas
explicações, muita confusão, e muita controvérsia!
Os adventistas continuaram defendendo a
afirmação acerca do amálgama como a união entre seres humanos e bestas até
1947, quando um biólogo adventista, o Dr. Frank Marsh, convenceu um painel de
adventistas do sétimo dia de que isto não era possível. Isso ocorreu décadas
depois que os cientistas haviam demostrado que o ser humano não pode cruzar com
animais.
Nota: Todo segmento difusor de fé tem seu calcanhar de Aquiles (ou
calcanhares?). O tema amálgama é sem solução para os ASD. Qualquer conclusão proposta será ruim. Teremos perda de credibilidade,
em caso de negação da tese. Teremos racismo, em caso de sustentação da tese.
Enéias Teles Borges
CLICK NO LINK ABAIXO E LEIA AQUI A DEFESA DE URIAS SMITH EM FAVOR DE ELLEN WHITE SOBRE ESTE TEMA:
O AMÁLGAMA
O AMÁLGAMA
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