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Jesus era filho biológico de José?


ENSAIO SOBRE A CONCEPÇÃO VIRGINAL DE JESUS
Jesus era filho biológico de José?

Este ensaio procura apresentar questões relativas à historicidade dos relatos evangélicos da concepção virginal de Jesus, sua relação com a própria genealogia apresentada e o conceito de filiação Divina em diversas correntes de pensamento.

1 - INTRODUÇÃO
Este documento é um estudo que procura se basear unicamente na estrutura do texto que trata da concepção virginal de Jesus nos evangelhos de Mateus e Lucas, relacionando-o com a genealogia apresentada pelos evangelistas e o conceito de Filiação Divina em diversas correntes de pensamento. Por outro lado, também tem o interesse de suscitar questões a fim de serem esclarecidas.
Este é um tema “complexo”, mas não difícil, principalmente porque nossas concepções doutrinárias infelizmente carregam ainda o peso da tradição, que se arrasta desde o 2º Século, quando entraram em cena os chamados “pais da Igreja”, homens que embora possuíssem muita sabedoria, acabaram por mesclar conhecimento bíblico com idéias da filosofia grega. Nós, estudiosos da bíblia, devemos “pesar” as conseqüências deste ato ao interpretar as escrituras. Quem quiser levantar críticas e objeções, saiba desde já que serão aceitas e muito bem vindas e que por isso também me dará o direito de apresentar uma réplica de igual intensidade. Este é o objetivo do ensaio sobre a concepção virginal.
O homem que apenas crê e não procura refletir, se esquece de que é alguém constantemente exposto a duvida, seu mais íntimo inimigo, pois onde a fé domina ali também a dúvida está sempre à espreita. Para o homem que pensa, porém, a dúvida é sempre bem recebida, pois ela lhe serve de preciosíssimo degrau para um conhecimento mais perfeito e mais seguro. [1]
O pensamento da geração divina na virgem não só é alheio ao AT e ao judaísmo, mas é também impossível na sua esfera. [2]
2 – QUAL O OBJETIVO DAS GENEALOGIAS?
A genealogia é uma ciência auxiliar da história que estuda a origem, evolução e disseminação das famílias e respectivos sobrenomes ou apelidos. A definição mais abrangente é “estudo do parentesco”. Como ciência auxiliar, desenvolve-se no âmbito da “História de Família”, onde é a peça fundamental subsidiada por outras ciências, como a Sociologia, a economia, a história da arte ou o direito. É também conhecida como “ciência da História da Família”, pois tem como objetivo desvendar as origens das pessoas e famílias por intermédio do levantamento sistemático de seus antepassados ou descendentes, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. [3].
Genealogia deriva da raiz “GEN” – significando nascimento, descendência (nobre) e depois família, raça (isto é, aqueles que são vinculados por uma origem comum). (Grifos Meus).
A genealogia em Mateus tem sua situação histórica mais natural na especulação genealógica e messiânica do judaísmo, conforme é conservada na literatura intertestamental e rabínica. Não era costume judaico seguir a linhagem da pessoa pelo lado materno e, portanto semelhante registro não teria sido conservado para Maria. Este fato se percebe tanto nos pormenores do texto de Mateus 1:1-17 quanto na disposição global. Além disto, os temas e a função da genealogia acham paralelos na narrativa. [4]
O objetivo primordial de Mateus, a meu ver, encontra-se logo no inicio do capítulo e é a chave para se compreender a estrutura tanto da genealogia quanto do livro em sua totalidade. Mateus apresenta logo no início o “personagem da genealogia”, apontando para dois outros “personagens principais”: Abraão e Daví. Sendo Abraão o patriarca do povo judeu e Davi o rei de Israel e fundador da dinastia real, estes dois são os principais depositários das promessas relativas ao Messias. Ambos foram o que foram a partir de uma “promessa de Deus”. Veja Genesis 22:18 e 2 Samuel 7:12 – 14.
Diante do exposto acima com relação à função da genealogia e do personagem da genealogia (vide as quatro versões abaixo), qual seria a intenção de Mateus (pressupondo-se que ele redigiu o texto como se encontra em nossas versões atuais) em registrar uma genealogia, se chegando ao personagem principal, que é o objeto da genealogia – JESUS – este não teria sido gerado da forma comum?
A forma atual de Mateus 1:16 deveria pelo menos seguir o ritmo anterior, com o uso comum da formula “A gerou B, que gerou C”, descrevendo assim: “E José gerou Jesus, que se chama O Cristo”. A atual redação transforma a paternidade de José em mera paternidade adotiva, esvaziando a genealogia do seu sentido original e despojando-a até de sua finalidade principal tornando-a supérflua e sem sentido.
Disto isto, levantaremos uma questão: A passagem de Mateus 1:16-25 (na forma atual) poderia ser considerada uma interpolação tardia? Se o auditório de Mateus eram os judeus (creio que todos concordam com isto) e o objetivo era provar a messianidade de Jesus em sua origem comum com os patriarcas Abraão e Daví (v. 1), não haveria incompatibilidade entre a narrativa da concepção virginal e a genealogia? Se não há incompatibilidade, qual a explicação teológica plausível?
Confira Mateus 1:1 em versões distintas:
Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão (Almeida Corrigida Fiel)
Registro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão: (Nova Versão Internacional)
Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão: (Bíblia da CNBB)
Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão (Almeida Imprensa Bíblica);
Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. (Bíblia de Jerusalém. 3a. Impressão. Paulus 2004).
Abraão e Davi são destacados como pontos essenciais no desenvolvimento genealógico da linhagem de Jesus. “Filho de David” ressalta o messiado real e “Filho de Abraão”, que também é um título messiânico, ressalta a origem de Jesus dentro da nação e da fé judaicas; Ele (O Messias) é a verdadeira descendência de Abraão em quem se cumprem as promessas de Deus. As genealogias começaram a aparecer depois do exílio da babilônia e eram comuns entre os judeus do tempo de Jesus. Usavam-nas para guardar suas histórias, suas origens e sua própria identidade.
2.1 – VIRGEM OU JOVEM MULHER?
A leitura de “virgem”, em Mateus 1:23, é aquela da versão septuaginta grega e a glosa de Mateus, ao interpretar o nome simbólico Emanuel como um indicador da natureza sobre-humana do filho milagroso, implica igualmente que uma leitura não-judaica estava sendo considerada. Judeus teriam sabido que o nome Emanuel (Deus está Conosco) significava não a encarnação de Deus em forma humana, mas uma promessa de ajuda divina ao povo judeu. Leitores familiarizados com o hebreu Isaías ficariam perplexos com o argumento de Mateus porque a palavra usada pelo profeta do Antigo Testamento foi “jovem mulher” (em hebraico “almah”) e não “virgem” (em hebraico “bethulah”). Uma jovem engravidando não é a mesma coisa que uma concepção virginal. A interpretação ardilosa de “almah” como “parthénos” (virgem, donzela) foi corrigida nas traduções gregas posteriores (primeiro ou segundo século D.C) de Isaías; Todas trocaram a “jovem menina” (neánis) pela “virgem” (parthénos) da versão septuaginta. Em linguagem clara, a genealogia e a narrativa do nascimento por Mateus refletem uma imagem de Jesus nascido de uma virgem que foi criada exclusivamente e só tinha sentido para a igreja helenista. [5].
Segundo o Professor e Mestre em Teologia, Fábio Sabino, o termo traduzido como “virgem” gera sérios problemas na interpretação do significado do texto. Ele diz:
O vocábulo que está no texto hebraico de Isaías 7:14 é - haAlmah, que significa: “a jovem”, “a moça” ou “a donzela”. A tradução literal da passagem deve ser a seguinte: “Portanto Ele – YHVH -  vos dará um sinal: eis que a jovem grávidadada um filho – lhe deu por nome Imanuel”. As versões em português como a ARA, ARC e ACF, não acompanham o texto hebraico e este mesmo vocábulo – haAlmah -  é atestado em outras passagens nas quais não conota virgindade (estrita)”.
Com relação ao vocábulo grávida, outro importante vocábulo que está no texto, diz o professor: “O vocábulo Haráh - significa grávida ou conceber, nas versões em português seu uso está equivocado, pois foram traduzidas com sentido de verbo de modo a enfatizar sua ação em tempo futuro (ficará grávida), sendo que o sentido é de adjetivo e tempo presente. A raiz desta palavra é usada também para descrever relações sexuais. Ex.: 1 Sm. 4:19; 2 Sm. 11:5; Is. 26:17”.
Continuando, o professor diz: “Outro vocábulo importante a ser analisado no texto é o vocábulo - “veiledet” -  que significa simplesmente “dada”. Todas as versões em português trazem o verbo no tempo futuro, (dará a luz), porém, no hebraico o verbo está no particípio, adquirindo, portanto uma ação já acabada, finalizada”. O texto de Isaías 7:14 não tem nenhuma conotação messiânica.
O exegeta J. M. Asumendi (professor do Instituto Católico de Paris), responde:
Alguns séculos mais tarde, a tradução grega chamada dos Setenta (Septuaginta), traduz o termo por “PARTHENOS” que quer dizer virgem. Quando foi escrito Isaías 7:14 não tinha o sentido messiânico, foi só com a tradução grega que ele ganhou essa dimensão”.
C. Perrot, especialista da Literatura Israelita acrescenta:
A jovem – em hebraico Almáh - designa a esposa do rei. A linhagem de Davi não se interromperá e Ezequias, filho de Acaz, consolidará a promessa davídica. É difícil saber em que época foi dada a este versículo uma interpretação messiânica; mais difícil ainda é saber por que a tradução grega dos Setenta – desde o século II a.E.C. – traduziu o termo Almáh por Parthenos, a “virgem”. Esperaria a tradição judaica de Alexandria o nascimento virginal do Messias? Seria talvez pretender demais. Diríamos antes que o Messias era esperado de uma intervenção de Deus, mas sem que isso significasse necessariamente uma interrupção na descendência de Davi”.
Muitos cristãos ousam responder afirmando que a profecia teve dois cumprimentos, um no tempo do rei Acaz e outra vez no tempo de Jesus.
A profecia era de que a jovem daria a luz a uma criança e lhe poriam o nome de Emanuel e que quando essa criança soubesse distinguir entre o bem e o mal, Judá não mais seria ameaçada pelos dois reis. De que modo essa profecia se encaixa em Jesus? Esse versículo nunca é citado no contexto porque nada mais da profecia bate com Jesus, a não ser a equivocada tradução da palavra haAlmah, como mostramos acima. O menino Emanuel veio como sinal para o Rei Acaz de que Israel não seria atacado pelos dois reis.
Pois antes que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, será desolada a terra dos dois reis perante os quais tu tremes de medo”. Isaías 7:16
Onde isso se encaixa na historia de Jesus? Será que a profecia sobre Jesus se resume a apenas ao versículo 14?
A única chance de parecer que essa profecia fala de Jesus é:
1° - Traduzir Almah (Moça) como virgem. O que já se provou ser completamente errado;
2° - Desconsiderar todos os versículos que dão contexto à profecia. (todos imediatamente anteriores e posteriores).
Esta profecia, portanto não deve ser usada para “provar” a concepção virginal de Jesus, embora em nossas bíblias esteja redigido dessa forma. A profecia se cumpriu nos tempos do profeta mesmo. Veja Isaías 8:3,4.





3 – APONTANDO ALGUMAS DIFERENÇAS RELEVANTES
Com relação ao Evangelho de Lucas (Lucas 3:23-38), percebemos que a referida genealogia é diferente e oposta, a meu ver, à descrita por Mateus. Lucas ascende de Jesus até Adão. Muitos afirmam que se trata da genealogia de Maria, mas parece-me que Lucas não pensava assim, porque logo de inicio menciona o nome de José, que analisado em contexto imediato (Lucas 2), verifica-se ser o seu pai [não-adotivo]. Além do mais, se a genealogia em Lucas fosse de fato a de Maria, era presumível que o nome dela aparecesse, afinal, Mateus não se sentiu desconfortável em mencionar em sua genealogia três mulheres, além de Maria. Se a genealogia de Lucas é a de Maria, convido aos leitores que produzam uma prova que confirme tal afirmação. Observe também que se nesta genealogia, José não fosse de fato o pai de Jesus, ela não teria sentido. A afirmação de Lucas mostra positivamente que ele era realmente o filho de José. Ele certamente sabia que Jesus era “como se supunha” o filho de José. Se Lucas tivesse a intenção de contrariar esta situação, o mais correto seria ter dito “não sendo o que ele deveria ser - o filho de José”. Por outro lado, se você negar que José era o pai de Jesus, como se pode provar sua descendência de Davi? 
A genealogia de Lucas coloca como ascendente de Jesus a Natã, o irmão de Salomão (Lucas 3:31). Qual a explicação plausível, se a promessa messiânica em Lucas 1:32 e 33 se refere exclusivamente à Salomão e não à Natã (Veja 2 Samuel 7:12 - 14 e 1 Crônicas 22:9,10 e 28:6,7)? Os descendentes do meu irmão podem ser os meus descendentes? Em que sentido isto se daria, se fosse possível? Analisem e observem se entre Lucas 1:32, 33 e Lucas 3:31 não há contradições com relação ao herdeiro do Trono de Davi! Toda esta problemática que estamos levantando, é para fazer com que os leitores busquem compreender os pormenores das narrativas genealógicas e visualizem contradições com as promessas messiânicas descritas no Antigo Testamento.
Poderíamos esperar por isso: depois do fim da vida terrestre de Jesus e do desaparecimento das ultimas testemunhas oculares, cada um tem a tendência de se representar o “seu” Cristo. Já é verdade a respeito dos quatro evangelhos, que propõem tantos retratos de Jesus. É ainda mais verdade no século II: há um verdadeiro desenvolvimento dos conceitos e dos discursos sobre Cristo, de acordo com as origens culturais e religiosas, com a sensibilidade dos novos fiéis. Talvez já seja contra essa maneira de ver Cristo que os evangelhos da infância (Mateus 1-2, Lucas 1-2) foram redigidos: antes do relato do batismo quiseram acrescentar alguma coisa sobre o nascimento de Jesus, para mostrar que, já no seu próprio ser, ele não é um homem como os outros: são os relatos da concepção virginal. A relação de Jesus com Deus está inscrita no seu ser, não é apenas uma questão de missão recebida ou de função exercida em um dado momento”. [6]
Passagens relevantes do Novo Testamento nos mostram algumas expressões categóricas que são incompatíveis com a idéia da concepção virginal: É possível que Lucas tivesse escrito o que se segue, à luz da concepção virginal?
Lucas 2:27 – os pais trouxeram o menino;
Lucas 2:33 – O pai e a mãe do menino estavam admirados......
Lucas 2:41-43 – Seus pais iam a Jerusalém....Permaneceu em Jerusalém sem que seus pais o soubessem. Lucas 2:48 – Teu pai e eu estamos à tua procura.....
É também manifesta a ignorância (desconhecimento) de Maria e seus familiares, que segundo Marcos 3:21; 31-35, ao ouvirem dizer que Jesus estava fora de si, saíram a busca dele, se à luz da concepção virginal, Maria tivesse conhecimento da natureza divina de Seu Filho. Por que o teria considerado como “fora de Si”?
A questão dos nazarenos: “Não é este o filho de José”? (Lucas 4:22). O autor em vez de refutar essa opinião, à luz da concepção virginal, parece compartilhá-la. Além disso, a passagem de Isaías 61:1 lida e comentada por Jesus, refere-se não à uma filiação divina, mas à sua unção profética.
Como podemos explicar, por exemplo, a cena da purificação (Lucas 2:22-24) e a admiração de José e Maria às palavras de Simeão (Lucas 2:33) e às palavras que Jesus dizia (Lucas 2:50), sob a  ótica da concepção virginal? Percebam que a ALMEIDA ATUALIZADA traduz o v. 33 como “o pai e a mãe do menino admirados do que dele se dizia”.
Por que José e Maria deveriam se admirar, se sabiam que Seu Filho teve origem sobrenatural? Não é estranho Jesus não fazer qualquer alusão à sua origem sobrenatural, para melhor acreditar sua missão e para fazer frente aos que o desprezaram?
Se alguém mencionar a passagem de João 6 (o pão vivo que desceu dos céus) como prova, deve ponderar seus argumentos à luz de todo o contexto da discussão dele com os judeus e o sentido simbólico dos termos utilizados por Jesus. Se ao Jesus dizer que desceu do céu (João 6:38), significa que ele “literalmente” teria feito isto, o mesmo critério então deve ser utilizado para a afirmação de que este pão era “sua carne” e que se eles não comessem dessa “carne e sangue” não teriam vida neles mesmos. (João 6: 51-54). Podem ser considerados literais estes discursos? Jesus estaria ensinando o canibalismo?
Alguém argumentaria a favor de que a “carne e o sangue” de Cristo teria literalmente descido dos céus? Vide João 6:51 e 58.
Em Mateus 22:41,42, o próprio Jesus interroga aos fariseus, perguntando-lhes:
Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles disseram-lhe: De Davi. 
Ora, os judeus jamais diriam que O Messias não seria Filho (descendente) de Daví, pois eles viviam isso diariamente. Mas, vamos olhar para essa questão com mais cuidado.
Todos compreendem que os fariseus deram uma resposta bíblica para a primeira pergunta no versículo 42. “De quem ele é Filho? Eles disseram-lhe: de Daví”. Mas, à segunda pergunta eles não responderam, a do v. 45: “Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como ele é seu filho? Nem Jesus oferece nenhuma explicação. 
As escrituras, no entanto, nos proporcionam a solução desta dificuldade aparente. Atenção deve ser dada ao que é dito nos versículos 43 e 44: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés”? 
Jesus tornou-se filho de Davi, por descendência natural através de José, e seu Senhor através da morte, ressurreição e imortalização. A Vontade de seu Pai foi que fizeram dele o “Senhor e Cristo”. Veja Atos 2:30-36. Isto pode ser atestado em outra passagem também:
João 7:41,42, que diz: Outros diziam: Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galiléia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de onde era Davi?
Veja, no último livro da bíblia, como o Senhor se auto-designa:
Apocalipse 22:16 - Eu, Jesus, enviei o meu anjo para dar a vocês este testemunho concernente às igrejas. Eu sou a Raiz e o Descendente (Gr. Genos) de Davi, e a resplandecente Estrela da Manhã
Estas palavras poderiam designar alguém que teve na verdade uma origem sobrenatural?
Segundo o Dr. Bart Ehrman, muitas alterações foram efetuadas no NT a fim de favorecerem determinados grupos e determinadas teologias. Essas alterações são denominadas por ele como alterações textuais teologicamente motivadas. Ele diz:
Durante os séculos II e III, contudo, não havia acordo quanto a um cânon – nem acordo quanto a uma teologia. Em vez disso havia um amplo leque de diversidade: diversos grupos afirmando teologias diversas baseadas em diversos textos escritos, todos reivindicando terem sido escritos pelos apóstolos de Jesus. Alguns desses grupos insistiam em que Jesus Cristo era o Filho Único de Deus, que era, ao mesmo tempo, completamente humano e completamente divino; Outros grupos insistiam em que Cristo era completamente humano, mas não era divino de todo; Outros defendiam que ele era completamente divino, mas não integralmente humano; E outros ainda afirmavam que Jesus era as duas coisas – um ser divino (Cristo) e um ser humano (Jesus)”.
O grupo que se estabeleceu como “ortodoxo” (o que significa que detinha o que ele mesmo considerava como a “reta crença”) determinou aquilo em que as gerações cristãs futuras acreditariam e que leriam como escrituras.
O Dr. Ehrman examina a questão das disputas onde houve as discordâncias textuais e afirma o seguinte:
Alguns grupos cristãos dos séculos II e III tinham uma visão “adocionista” de Cristo. Esta visão é assim chamada porque seus adeptos afirmavam que Jesus não era divino, mas um ser humano de carne e ossos a quem Deus adotara como seu Filho, provavelmente por ocasião do batismo. Este grupo afirmava que Jesus não era ele mesmo divino, mas um ser humano que, em natureza, não era diferente do resto de nós: nascera da união sexual de seus pais, José e Maria, como qualquer outra pessoa (sua mãe não era uma virgem) e depois fora criado em uma casa judia. Deus o adotou como Filho por ocasião do seu batismo, quando uma voz veio dos céus anunciando ser ele filho de Deus.
Em resposta a essa perspectiva adocionista, os cristãos proto-ortodoxos insistiam em que Jesus não era “meramente” humano, era realmente divino e em certo sentido o próprio Deus. Nasceu de uma virgem, era mais justo que qualquer outro ser porque era diferente por natureza e, por ocasião de seu batismo, Deus não o tornou seu filho (via adoção), mas simplesmente declarou que ele era seu filho, dado que sempre o fora, desde os tempos eternos.
O que encontramos foram passagens nas quais os textos foram alterados, de modo a se oporem a uma cristologia adocionista. Essas mudanças enfatizam que Jesus nasceu de uma virgem, não foi adotado em seu batismo e era propriamente Deus.
Mudanças foram introduzidas nos manuscritos que registram o inicio da vida de Jesus no Evangelho de Lucas. Em determinada passagem, diz-se que quando José e Maria levaram Jesus ao templo e o santo homem Simeão o abençoou, “seu pai e sua mãe ficaram maravilhados com o que se dizia dele” (Lucas 2:33). Seu pai? Como o texto poderia chamar José de pai de Jesus se Jesus nascera de uma virgem?Por isso não é surpresa que muitos copistas mudaram o texto para eliminar o potencial problema, dizendo: “José e sua mãe ficaram maravilhados”. Agora o texto não poderia ser usado por um cristão adocionista em defesa da posição de que José era o pai da criança”.
As versões em português que trazem esta tradução para Lucas 2:33, são: 
E José, e sua mãe, se maravilharam das coisas que dele se diziam. (ACF)
José e Maria se maravilharam das coisas que dele se diziam (ARC)
Fenômeno similar ocorre poucos versículos adiante (Lucas 2:43), no relato de Jesus aos doze anos no templo. O texto diz: “Sem que seus pais o soubessem”. Mas por que o texto fala de seus pais quando José não é realmente seu pai? Vários testemunhos textuais corrigem o problema ao fazerem o texto dizer: “José e sua mãe nada sabiam”.
A versão que representa esta variante em português é a ACF: “E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o soube José, nem sua mãe.
 “Outra variante ocorre em um relato do batismo de Jesus por João, justamente o ponto no qual muitos adocionistas insistiram que Jesus foi escolhido por Deus para ser seu filho adotivo. Em Lucas e em Marcos, quando Jesus é batizado, os céus se abrem, o espírito desce sobre Jesus em forma de pomba e uma voz vem do céu. Mas os manuscritos do Evangelho de Lucas se dividem acerca do que a voz teria dito exatamente. Segundo a maior parte deles, ela falou as mesmas palavras que se encontram no relato de Marcos: “Tu és meu filho amado em quem me comprazo”. (Marcos 1:11; Lucas 3:22). Em um manuscrito grego primitivo e em vários manuscritos latinos, porém, a voz diz algo notavelmente distinto: “Tu és meu filho, hoje eu te gerei”. Será que isso não sugere que o dia do batismo de Jesus é o dia em que ele se tornou o Filho de Deus? Qual dessas duas formas do texto é a original e qual representa a alteração”?
Segundo o Dr. Ehrman, é típico dos copistas a disposição de harmonizar o texto em vez de tomá-los em desarmonia; Portanto a forma que difere de Marcos tem maior probabilidade de ser o original de Lucas. Esse versículo é citado nos séculos II e III por toda a parte, de Roma a Alexandria, da África do Norte a Palestina, da Gália a Espanha. E, em quase todas as ocasiões, é a outra forma do texto que é citada (Hoje eu te gerei). Esses argumentos sugerem que a variante menos atestada é indubitavelmente a original e que ela foi mudada por copistas receosos de suas implicações adocionistas. Alguns pesquisadores tomaram a direção oposta, ao defender que Lucas não poderia apresentar a voz dizendo no batismo “hoje eu te gerei”, porque já está claro, antes desse ponto da narrativa de Lucas, que Jesus é o Filho de Deus. Tanto que em Lucas 1:35, antes do nascimento de Jesus, o anjo Gabriel anuncia a mãe de Jesus: ... “Por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”. Em outras palavras, para o próprio Lucas, Jesus já era o filho de Deus desde o nascimento. (Veja também: A Questão Genética).
A dificuldade dessa linha de raciocínio – por mais persuasiva que seja a primeira vista – é que ela omite o modo como Lucas geralmente usa as designações de Jesus no decorrer de sua obra (incluindo não apenas o evangelho, mas também o segundo volume de seu escrito, o livro de Atos). Consideremos, por exemplo, o que Lucas diz sobre Jesus como o Messias. Segundo Lucas 2:11, Jesus nasceu como “O Cristo”, mas em um de seus discursos em Atos, afirma-se que Jesus se tornou “O Cristo” por ocasião de seu batismo. (Atos 10:37-38). Portanto, tudo indica que no relato original do batismo de Jesus narrado por Lucas, a voz veio do céu para declarar: “Tu és meu Filho, hoje eu te gerei”. [7]. Em resumo, as narrativas da infância em Lucas e Mateus são contraditórias com todo o conjunto da obra.
Um famoso erudito católico romano chamado Raymond Brown, explicando sobre a possível idéia de concepção virginal no Judaísmo, diz o seguinte:
Embora saibam que Isaías não falou de uma concepção virginal, muitos biblistas acreditam que sua profecia foi assim interpretada pelos judeus de língua grega (LXX de Is 7,14) e isso explica por que os judeu-cristãos helênicos expressaram suas idéias a respeito das origens do Filho de Deus como uma concepção virginal. Mas, não há razão para acreditar que a versão da LXX de Is 7:14 se referia a uma concepção virginal ou foi assim interpretada pelos judeus. É a exegese cristã, testemunhada em Mateus 1:22-23, que reinterpreta Is 7:14 à luz de uma tradição cristã existente da concepção virginal de Jesus. Quando muito, Mateus deixou sua interpretação de Is 7:14 colorir seu relato da concepção virginal e não há nenhuma prova irrefutável de que Lucas recorreu a Is 7:14”. [8]
Continuando a análise, o Dr. Raymond aponta o absoluto silencio do NT com relação à concepção virginal:
É indiscutível que não há nenhuma referência explícita à concepção virginal no NT, fora das narrativas da infância. O assunto discutido é se há referências implícitas”.
“As cartas paulinas. Em Gl 4:4-5, Paulo diz: “Quando se completou o tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei”. Talvez inuenciados pelo (mau) uso da expressão “parto virginal”, alguns biblistas (Zahn, Miguens) pensaram imediatamente em uma concepção virginal aqui, pois só a mãe é mencionada. Entretanto, para ser exato, Paulo fala da realidade do nascimento de Jesus, não da maneira de sua concepção. A frase “nascido de mulher” destina-se a enfatizar o que Jesus partilhava com os que ele redimiu, precisamente porque se aplica a todos que caminham nesta terra. (Grifos meus).
Um argumento mais sério em defesa do conhecimento paulino da concepção virginal baseia-se no costume de Paulo de escrever que Jesus foi “nascido” (o verbo ginesthai em Gl 4:4; Rm 1:3; Fl 2:7) em vez de “gerado” (o verbo gennan, usado a respeito de Ismael e Isaac em Gl 4:23,24,29). No entanto, os dois verbos na voz intermediária ou passiva signicam “nascer” e “ser gerado”; e nenhum dos dois informa alguma coisa especíca sobre a maneira de concepção. Por exemplo, Mateus, que acredita na concepção virginal, usa o verbo gennan a respeito de Jesus, uma vez pelo menos, claramente com o sentido de “gerado” (Mt 1:20). Sem outra indicação da idéia de Paulo, é abusivo interpretar um conhecimento da concepção virginal no uso paulino de “ginesthai”.
“Evangelho de Marcos - Marcos nunca menciona José pelo nome; e, em uma passagem em que Mateus e Lucas fazem os cidadãos de Nazaré falar de Jesus como “o lho do carpinteiro” e “o lho de José”, Marcos usa “o lho de Maria” (Mc 6,3; Mt 13,55; Lc 4,22). A reconstrução da história pré-evangélica da passagem é complicada, mas Miguens argumenta minuciosamente que o silêncio sobre José por parte de Marcos é deliberado porque este sabe que Jesus não tem pai humano. Uma solução muito mais simples é preferível. José não aparece durante o ministério de Jesus em nenhum dos evangelhos e é muito provável que ele tenha morrido antes do batismo de Jesus. Se os aldeões de Marcos falam de Jesus como “o lho de Maria”, talvez isso represente uma identicação de Jesus com a utilização do único progenitor vivo e conhecido, precisamente porque Mc 6:3 aborda a presença da família no povoado. Em todo caso, a tese de que os aldeões de Marcos insinuam a concepção virginal parece inacreditável à luz de Mc 6:4, em que Jesus se compara a um profeta desvalorizado em sua própria terra, entre os parentes e em sua casa. Uma avaliação negativa semelhante das relações entre Jesus e sua família encontra-se em Mc 3:21,31-35. Ali, Marcos primeiro conta que “seus familiares” pensavam que Jesus estava fora de si (ou cando louco) e foram detê-lo; em seguida, relata que a mãe e os irmãos de Jesus chegaram e caram do lado de fora de onde ele estava e mandaram chamá-lo. Aparentemente, Marcos inclui a mãe de Jesus entre “seus familiares” que pensavam que ele estava cando louco. Marcos continua e faz Jesus diferenciar sua família natural, que está do lado de fora, dos que estavam do lado de dentro ouvindo-o, uma família constituída pelos que faziam a vontade de Deus. Essa visão desdenhosa do relacionamento de Maria com Jesus dicilmente é conciliável com um conhecimento da concepção virginal. Mateus e Lucas, que têm esse conhecimento, suprimem a primeira e mais ofensiva parte da cena marciana, em que “seus familiares” acham que Jesus está fora de si (até no paralelo a Mc 6:4, eles omitem a referência desdenhosa de Jesus a parentes que não valorizam o profeta). Além disso, Lucas modica drasticamente a última parte da cena marciana, de modo que Jesus já não substitui sua família natural, mas inclui sua mãe e seus irmãos entre os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática (Lc 8:19-21)”. (Grifos meus).
Escritos Joaninos. “Alguns biblistas encontram apoio para a concepção virginal em uma interpretação diferente de Jo 1:13: “Aquele que foi gerado [em vez de ‘aqueles que foram gerados’], não pelo sangue, não pela vontade da carne, não pela vontade do homem, mas por Deus”.
Essa variação não é atestada em nenhum manuscrito do evangelho e é plausível que seja mudança feita no período patrístico a m de realçar a utilidade cristológica do texto. Além disso, há quem arme que Jo 7:41-42 revela o conhecimento que o evangelista tinha do nascimento em Belém e, portanto, da concepção virginal. O conhecimento joanino do nascimento em Belém é incerto e isso nada tem que ver com o conhecimento da concepção virginal. Finalmente, é duvidoso que “aquele que é gerado [gennëtheis] de Deus” em 1Jo 5,18 rera-se a Jesus e não ao cristão; Mas, mesmo que se rera a Jesus, mais duvidosa ainda é a tentativa de ver na frase uma referência à concepção virginal.
A mesma frase “gerado [ou nascido] de Deus” é usada em 1Jo 2,29; 3,9; 5,1.4 a respeito de cristãos em geral, sem nenhuma implicação de concepção virginal”.
Em uma avaliação concisa das provas, diz o Dr. Raymond, eu diria que é perfeitamente adequado falar do silêncio dos outros livros do NT a respeito da concepção virginal porque nem uma só das “referências implícitas” tem qualquer força instigadora. (Grifos Meus).
 “Nada de palpável leva a crer que Mateus se tenha servido da concepção virginal para inculcar, ou insinuar, uma compreensão “física” da filiação divina de Jesus. A partir de Mateus é forçoso concluir que as comunidades judaico-cristãs a ele subjacentes, não conectavam a filiação divina de Jesus com a concepção virginal, nem derivavam a primeira da segunda. Lucas, pelo contrário, vê um nexo entre ambas. Nexo de causa ou de sinal? A análise literária não permite caracterizar a concepção virginal em analogia com o mito teogâmico. Não se trata de um ato de procriação ou de fecundação, pois Maria não foi fecundada por meio de um gérmen divino, nem Jesus foi gerado de uma substancia divina, mas por uma intervenção da onipotência de Deus. A compreensão de Filiação Física de Jesus é impossível de se justificar como simples fase evolutiva da messianologia judaica. Tal compreensão física só seria possível no cristianismo helenista”. [9]
4 - A QUESTÃO GENÉTICA
O fato de Maria ter dado à luz a um filho sem a presença do pai chama-se tecnicamente de partenogênese. Este termo não se encontra na bíblia, apenas o termo grego parthenos, usado por Mateus como referência a profecia de Isaías 7:14. Mas partiremos do pressuposto que se a idéia da partenogênese está contida na bíblia, então ela é válida. Porém, o que quero analisar são alguns detalhes desta idéia à luz do contexto das profecias messiânicas e da genealogia apresentada pelo próprio evangelista.
Partenogênese ou partogênese (do grego παρθενος, virgem, + γενεσις, nascimento, uma alusão à deusa grega Atena, cujo templo era denominado Partenon) refere-se ao crescimento e desenvolvimento de um embrião sem fertilização. São fêmeas que procriam sem precisar de machos que as fecundem. Quando falamos em reprodução sexuada, todos pensamos num tipo de reprodução em que se dá o encontro de dois gametas diferentes (gameta feminino e gameta masculino), ocorrendo a fecundação.
O resultado é o desenvolvimento de um novo ser em que o fenótipo apresenta metade dos cromossomos oriundos do gameta feminino e outra metade do gameta masculino. O fenômeno de Partenogênese é comum em plantas agamospérmicas, alguns invertebrados (como por exemplo, pulgas de água e afídeos) e alguns vertebrados (por exemplo, peixes, lagartos, salamandras, e até perus). [10]
Seres humanos têm 46 cromossomos, distribuídos em 23 pares. 44 (22 pares) destes cromossomos são autossomos e 2 (1 par) são cromossomos sexuais. Humanos têm um sistema de determinação sexual XY, tanto que fêmeas têm cromossomos sexuais XX e os machos, XY.
No caso de Maria, único e exclusivo na história da humanidade, devemos admitir que Jesus recebera todo o seu material genético, quando em sua formação. Em humanos, nunca foi comprovado nenhum caso de partenogênese e a questão de Maria ter dado à luz um rapaz não encaixar com a definição de Partenogênese pode ser levantada, uma vez que o filho só teria material genético feminino, logo não poderia ter o cromossomo Y que leva ao desenvolvimento de um rapaz (sexo masculino). Obviamente, não é preciso dizer sobre a masculinidade de Jesus. De onde teria vindo então o cromossomo Y, que deu origem ao bebê do sexo masculino em Maria? De Deus, do Espírito Santo ou de José?           Isto nos leva imediatamente à questão da geração Divina.
Analisando os dois relatos, verificamos que nenhum deles afirma “categoricamente” que Deus copulou com Maria (como nos mitos, principalmente os Greco-Romanos) e nem que Deus teria supostamente colocado a “semente” de José em seu útero.

Em Mateus 1:20 a afirmação é bem sucinta: “O que nela está gerado é do Espírito Santo”.
Em Lucas 1:35 diz: “Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”. 
Percebemos que o Espírito Santo nos dois relatos foi o “agente” que deu origem ao SER que nasceu de Maria. Podemos perceber também que o Espírito Santo não é visto pelos dois evangelistas como uma “pessoa”, mas como “poder (Gr. Dunamis) do Altíssimo”, que é capaz de “criar”.
Estes textos contradizem também a idéia de que Jesus teria preexistido como outro Ser, antes de sua origem aqui na terra. Para os trinitarianos e antitrinitarianos, que pensam que Jesus foi gerado na eternidade muito antes de Maria, esta seria uma segunda “geração”. Lucas, porém, não mostra esta idéia e Mateus por sua vez mostra a “origem (Gr. Genesis)” de Jesus. (Cf. Mateus 1:18).
A concepção virginal, portanto, não entra na categoria de “geração Divina”, pois segundo os dois relatos, Maria não é fecundada por um principio masculino, nem no seu útero foi depositado um gérmen, seja divino ou humano, mas entra na categoria de “criação”. A razão, a meu ver, está no fato de que nenhum dos evangelistas explique a origem humana de Jesus por meio de um gérmen superior, etéreo, divino, nem por meio de um gérmen humano, depurado das impurezas do pecado, mas apenas por meio de um milagre da onipotência de Deus (referido, como disse, ao espírito Santo, “poder de Deus”, não a uma terceira pessoa da trindade). Nas narrativas da infância, a concepção virginal não aparece como processo biogenético, para melhorar a constituição biológica de Jesus ou isentá-lo de alguma forma de pecado. Nenhum dos dois relatos mostra isto. A concepção virginal não confere uma dimensão semi-divina (ou Divina) à pessoa de Jesus, nem é a razão de ser da sua filiação divina.
Podemos, portanto concluir que Lucas não poderia ter registrado qualquer nexo entre a concepção virginal e a filiação divina de Jesus, pois não indica que a relação Pai-Filho seja por causa dessa concepção virginal. O titulo “Filho de Deus”, freqüente em Lucas e associado às fases mais importantes da vida de Jesus, em nenhuma parte, adquire dimensões metafísicas, nem na genealogia, onde a analogia entre Adão e Jesus se fundamenta apenas no poder criador de Deus.
Ao contrário do que muitos possam dizer, reafirmo que nem Mateus nem Lucas mostram que o relato da concepção confere a Jesus esta “filiação Divina”. Em Lucas, o texto diz: “Ele Será chamado filho de Deus” (Lucas 1:35). O verbo “ser” está no futuro, pois podemos confirmar que a afirmação “categórica” da filiação Divina veio somente por ocasião do batismo, segundo o próprio Lucas (Veja Lucas 3:22). Se ao dizer que Jesus “seria” chamado Filho de Deus apenas quando nascesse, então mostra que ainda assim não era Filho. Se já fosse Filho para Lucas, certamente poderíamos esperar uma declaração mais direta, do tipo: “Ele É chamado o Filho de Deus”. Há contradição entre os dois relatos ou não?
A noção judaica de filiação divina não postula uma geração física, mas apenas uma relação adotiva. A palavra Ungido era o título qualificativo que os judeus aplicavam a seus sacerdotes [Lev. 4:3, 5,16; 6:15, 22]. Ao Rei lhe chamavam “O Ungido de Yahveh”, por que no momento de receber a investidura real Ele era “ungido”, ou seja, um sacerdote derramava sobre sua cabeça “azeite consagrado”. Isto sugere, em minha opinião, que a unção de Jesus por ocasião de seu batismo, foi exatamente como era feito na unção do Rei e do sacerdote, porém de maneira espiritual. O óleo era “derramado” sobre a cabeça em abundancia. O “espírito de santidade” de YHVH foi derramado “abundamentemente” sobre o Messias. (vide João 3:34; Mateus 3:16,17). A unção com o azeite sagrado, ao mesmo tempo em que estabelecia um vinculo particular entre Deus e o “ungido”, significava a eleição divina e consagração formal para o desempenho de um cargo ou função (Cf. Levítico 8:12).
Não é somente questão de fé e pronto. Há elementos, mesmo nos dois evangelhos que não coadunam com a crença na concepção milagrosa. É preciso reconhecer que os dados neotestamentários, como redigidos em nossas bíblias atuais estão contraditórios com muitos outros textos do Novo Testamento sobre a “origem” de Jesus.
5 - DESCENDENCIA=SEMENTE
As profecias sobre o Messias mostram que ele deveria ser da Semente de Daví. É muito importante e significativa a palavra profética, pois é por meio dela que sabemos identificar com segurança quem de fato se qualificaria para ser o Messias prometido e é por meio dela também que a concepção virginal se torna um paradoxo (vide: A questão genética). Em toda a extensa literatura hebraica e no contexto das profecias bíblicas, não há uma só passagem que possa justificar a idéia de que o Messias prometido devia ser milagrosamente concebido, nem mesmo o texto de Isaías 7:14, analisado acima (Vide: Qual o objetivo das genealogias?).
Para entender o que significa “semente”, basta recorrer ao Antigo Testamento e ver qual o significado do termo e qual sua relação com as profecias sobre o Messias. O termo hebraico utilizado para descrever “semente” ou “descendência” é o vocábulo “Zerá”.

Genesis 17:9 - Disse mais Deus a Abraão: Ora, quanto a ti, guardarás o meu pacto, tu e a tua descendência (heb. zerá) depois de ti, nas suas gerações. 

Em Levíticos 15:16, a mesma palavra hebraica (zerá) é usada para descrever o “sêmen” que sai do homem, veja:

“Também se sair de um homem o seu sêmen (heb. Zerá) banhará o seu corpo todo em água, e será imundo até a tarde”.

Em mais outra passagem, verificamos o mesmo sentido:

Genesis 38:9 - Onã, porém, sabia que tal descendência (heb. Zerá) não havia de ser para ele; de modo que, toda vez que se unia à mulher de seu irmão, derramava o sêmen (heb. Zerá) no chão para não dar descendência a seu irmão.

Percebam que aqui o tradutor usou a palavra “descendência” com o mesmo significado de “sêmen”. Por este motivo, podemos compreender porque Jesus é chamado na bíblia de “descendente” ou “semente” de Daví. Eis as passagens que não deixam margens à nenhuma dúvida:
2 Samuel 7:12 - Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. 
Ø  O que o termo “sair das tuas entranhas” sugere ao leitor?
Salmos 89:3,4 - Fiz um pacto com o meu escolhido; jurei ao meu servo Davi: Estabelecerei para sempre a tua descendência, e firmarei o teu trono por todas as gerações.

Isaías 11:1 - Então brotará um rebento do toco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará.

Salmos 132:11 - O Senhor jurou a Davi com verdade, e não se desviará dela: Do fruto das tuas entranhas porei sobre o teu trono.

Romanos 1:3 - Acerca de seu Filho, que nasceu da descendência (Gr. Spermatos) de Davi segundo a carne;
2 Timoteo 2:8 - Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência (Gr. Spermatos) de Davi, ressuscitou dentre os mortos, segundo o meu evangelho;
Apocalipse 22:16 - Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração (genos) de Davi, a resplandecente estrela da manhã.

Ø  A NVI traduz como: Eu sou a raiz e O Descendente de Davi e concorda com a definição dada acima sobre “Genealogia”.
Atos 2:30 - Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que faria sentar sobre o seu trono um dos seus descendentes;
Ø  Em Atos 2:30, o escritor usou a palavra grega – OSPHUOS AUTOU KATA SARKA, que literalmente significa: Dos Seus Lombos Segundo A Carne.
João 7:42 - Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência (Gr. Spermatos) de Davi, e de Belém, da aldeia de onde era Davi?
Percebam que são as escrituras proféticas que norteiam a identificação do Messias e em todas elas verificamos que este “Messias” foi um descendente “carnal” de Daví, deixando, portanto de lado a idéia de uma concepção virginal. Os apóstolos entendiam esta sucessão e deixaram registrada esta idéia nas páginas do Novo Testamento. No grego neotestamentário, os escritores variam entre a palavra “genos” e a palavra “spermatos”, mais usada por Paulo. Todas sugerem descendência biológica. Confira os textos acima.
Por que a bíblia associa a “semente” com a “descendência”? É porque era através dessa “semente” que a promessa Messiânica poderia ser transmitida.
Dentro do contexto profético, O Messias era um descendente legítimo (da semente) de Davi. YHWH, segundo a Sua vontade revelada, profeticamente escolheu e elegeu a tribo de Judá (Salmo 78:67,68) da qual descenderia o Messias (Gênesis 49:10; Hebreus 7:14). Da tribo de Judá descendeu o rei Davi e de sua linhagem real, mediante as promessas e juramento feitos por YHWH. (Salmo 2:6; 89:3,4; 132:11; Isaías 11:1; Atos 2:29,30; 13:21-23; 2Timóteo 2:8; Apocalipse 22:16).
Portanto, é presumível que Jesus só poderia ter nascido biologicamente de José, porque a partenogênese humana é teologicamente inviável e estranha à cultura judaica e ao caráter profético messiânico a qual Jesus estava inserido. Os Judeus nunca esperaram um messias nascido de uma virgem e nem esperam até hoje. A palavra messias significa literalmente “ungido” e não um deus ou semi-deus. Ungido/Messias, é literalmente alguém que Deus unge para uma missão especifica ou para pregar sua palavra.

As objeções levantadas ao que escrevi acima serão bem vindas, se mostrarem que biblicamente há a possibilidade de haver compatibilidade entre a “genealogia de Mateus” e a “genealogia de Lucas com os relatos da “concepção milagrosa”. Entre a “questão genética”, que o texto em si não mostra nenhuma “geração” divina de um ser humano, nem que ele tenha existido como outro ser antes e nem como se deu esse processo de nascimento. 
6 - A FILIAÇÃO DIVINA DE JESUS EM 4 CORRENTES DE PENSAMENTO
Para os trinitarianos, a concepção virginal é o canal mediante o qual a Segunda Pessoa pré-existente da Santíssima Trindade entrou como ser humano verdadeiro, para participar do mundo do tempo e do espaço. O trinitarianismo baseia-se nos credos conciliares quando quer definir a pessoa de Jesus. Veja o que diz os dois credos mais importantes do trinitarianismo:
CREDO DE NICÉIA (ANO 325 E. C.)
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, da mesma substância do Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E, por nós, homens, e para a nossa salvação, "DESCEU DOS CÉUS": Se ENCARNOU pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem”.
CREDO DE CALCEDONIA (ANO 451 E. C.)
Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo, consubstancial com o Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado segundo a divindade pelo Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo para formar uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas desde o princípio acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos transmitiu”. 
Note, por favor, as palavras sublinhadas, pois elas são muito importantes para compreender de onde se originou o conceito de “geração eterna” e de “encarnação” defendidas tanto pelos trinitarianos, quanto pelos não-trinitarianos (os que pensam em Jesus como filho gerado na eternidade, sem, contudo acreditar que ele faça parte de uma trindade).
6.1 - FILIAÇÃO DIVINA SEGUNDO OS NÃO-TRINITARIANOS
Os Não-trinitarianos os quais me refiro, são os que postulam uma “geração na eternidade” do Filho de Deus e entendem que Jesus já era Filho, antes de vir a esta terra. Isto, obviamente pressupõe uma preexistência do filho.
Considerando o exposto acima, verificamos que esta concepção é a mesma postulada pelo credo de Calcedônia, onde diz que Jesus teve 2 (duas) gerações: A primeira antes de todos os séculos e a segunda como homem, da virgem Maria, ainda que não concordem com o conceito da união hipostática. O conceito de encarnação para estes é em realidade, o rompimento de uma existência atemporal e começo de uma existência humana, temporal, ou seja, o mesmo conceito trinitariano. Para estes, para ser “Filho Literal de Deus” é necessário que Ele tenha Nascido Do Próprio Deus Na Eternidade, da mesma substância, natureza e essência, portanto tendo um início. Ou seja, crêem que Jesus foi “sobrenaturalmente gerado de dentro do próprio Deus”, uma afirmação, em minha opinião, sem nenhum embasamento bíblico. Um Ser Eterno, indivisível, imortal, como é O Criador do Universo - [1Timóteo 1: 17; 6: 6; Salmo 90: 2], poderia gerar “FISICAMENTE” na eternidade, outro ser ainda que Filho, porém sujeito à morte? Seres imortais poderiam gerar seres mortais?
Desta forma, os defensores não trinitarianos da preexistência literal atribuem a Cristo 2 naturezas também, da mesma forma que o fazem os trinitarianos baseados no credo calcedoniano, porém estas naturezas estão “separadas no tempo”. A Trindade assenta na idéia de o Filho ter sido "eternamente gerado", o que não faz o menor sentido. Como pode alguém que não tem começo ser gerado? Por que não há absolutamente nenhum verso que fala de Jesus ter sido gerado pelo Pai na eternidade? Este tipo de conclusão, em minha opinião não encontra respaldo bíblico.
A bíblia não descreve o processo deste “suposto nascimento na eternidade”, simplesmente porque ele não existe, é pura invenção da mente humana, onde se procuram textos da escritura, soltos em seus contextos, para dar veracidade a suas afirmações. Não estou limitando a onipotência de Deus, estou caminhando dentro do que está escrito na revelação bíblica, seguindo o conselho Paulino (1 Cor. 4:6); É estranho como pensam os defensores da preexistência, que o Criador do Universo tenha tido um Filho no céu! Comparam O Criador de todas as coisas às mulheres que podem gerar filhos em seus ventres! E o tenha mantido em segredo por muito tempo e não o tenha permitido falar ou agir. Outros, por sua vez, afirmam que este Filho se manifestava em seu estado preexistente aos homens como um Anjo, [conceito das Testemunhas de Jeová e Adventistas do 7 Dia]. A epístola aos Hebreus refuta a idéia de que o Filho de Deus tenha sido algum dia um anjo. (Ver Hebreus 1:5,13).
Por que os não-trinitarianos (defensores da preexistência) não mostram com versos bíblicos, como se deu este processo de “nascimento na eternidade”? Inclusive atribuem erroneamente o significado do verbo “gennao” a este fato, tirando-o totalmente de seu contexto. (veja o uso de “gennao” em - a filiação segundo o conceito judaico).
O conceito de “geração na eternidade” pressupõe a mesma idéia trinitariana, apenas diferindo a terminologia adotada, pois quando o ser gerado na eternidade assume a humanidade, entra em cena a encarnação, que é um conceito não bíblico em minha opinião. Os trinitarianos dizem que o que se encarnou foi O Deus-Filho – a segunda pessoa da trindade - e os não trinitarianos dizem que o que se encarnou foi O Filho de Deus - (que preexistia como logos) - gerado na eternidade. Portanto, não há nenhuma diferença.
Outro reconhecimento sincero de que Lucas não pensou em Jesus como alguém preexistindo a seu nascimento vem de um destacado erudito Católico Romano, chamado Raymond Edward Brown, já mencionado acima. Ele enfatiza o fato de que Lucas “não mostrou conhecimento da preexistência”.  
Lucas 1:35 é uma vergonha para muitos teólogos ortodoxos, já que na preexistência [trinitária] uma teologia da concepção pelo Espírito Santo no ventre de Maria não traz à existência o Filho de Deus. Lucas aparentemente desconhecia tal cristologia. Para Ele, a concepção está “causalmente” relacionada à filiação divina”. [11]
Veja que o próprio estudioso católico admite que o texto de Lucas envergonha os teólogos trinitarianos, porque diz que eles tratam de evadir da conexão causal em Lucas 1: 35 – traduzidas como “pelo que”, ou “por isso”, por meio de argumentar que a concepção de um filho não traz à existência o Filho de Deus. Isto, sem dúvida, contraria a idéia de geração eterna [ou na eternidade] e por conseqüência de sua dupla natureza.
Introduzí aqui o exemplo deste erudito católico para mostrar que as duas passagens dos evangelistas sobre a concepção e nascimento de Jesus provam que não houve uma suposta geração eterna do Filho, nem preexistência ou que ele já era filho, antes mesmo de nascer no ventre de Maria.  Mesmo sendo católico Romano, o Dr. Raymond entende que a partícula grega “Dio kai” traduzida como “pelo que” em Lucas 1:35 enfatiza a causa original da concepção de Jesus e não uma encarnação de um ser eterno, entrando no útero de Maria, embora para Raymond, esta também seja a causa de sua filiação divina. Em minha opinião, quem defende a idéia da preexistência, defende implicitamente o trinitarianismo (com relação à uma suposta geração na eternidade).
O prólogo de João é muito usado para defender este raciocínio. Mas podemos apontar brevemente algumas incongruências: Alguns estudiosos afirmam que o prólogo de João e o capítulo 21 do mesmo evangelho não fazem parte do texto original. Não entrarei nesta questão aqui.
É imperativo que o estudante sério da Bíblia procure compreender o que significa o termo grego Logos, que é traduzido como "Verbo" (Com V maiúsculo) em João 1:1. A maioria dos trinitarianos crê que a palavra Logos se refere diretamente a Jesus, por isso na maioria das versões de João, Logos é traduzido como o Verbo (Com V maiúsculo). Sem dúvida, um estudo desta palavra grega mostra que ela ocorre mais de 300 vezes no NT, e tanto na NIV (Nova Versão Internacional) como na KJV (Versão do Rei Tiago), ela é grafada com letras maiúsculas 7 vezes (essas versões não estão de acordo sobre quando exatamente grafá-las em maiúsculas). Quando uma palavra que ocorre mais de 300 vezes é grafada em maiúsculas 7 vezes, é óbvio que esta questão de grafá-la assim é uma decisão do tradutor baseada em seu entendimento das escrituras.
Qualquer ocorrência de Logos, portanto, tem que ser estudada cuidadosamente em seu contexto para adquirir o significado correto. Afirmo que O Logos em João 1:1 não pode ser Jesus, pelos seguintes motivos:
1 - “Jesus” não está nas definições do léxico encontradas para “Logos”.
2 - Este versículo não diz “No princípio era Jesus”. “O Verbo” não é sinônimo com Jesus, nem sequer com a palavra “Messias”. A palavra Logos, em um de seus sentidos principais é quase parecida ao nosso conhecimento da palavra - razão. “O Logos de Deus é considerada como simplesmente a razão de Deus e sob outros aspectos como a sabedoria, mente e inteligência de Deus”.
3 - Se compreendermos que o Logos é a Expressão De Deus – Seu Plano, Propósitos, Razão E Sabedoria - fica mais claro dizer que isto era com Ele – No Princípio. A escritura diz que a sabedoria de Deus era “desde o princípio”. (Provérbios 8: 23). É muito comum nas escrituras hebraicas personificar um conceito, como a sabedoria, por exemplo. Nenhum provérbio judaico de leitura antiga pensaria na sabedoria de Deus como uma pessoa distinta, retratada tal como nas estrofes de Provérbios 8: 29-30. A maioria dos leitores judeus do livro de João estariam familiarizados com o conceito do “verbo” de Deus sendo com Deus quando trabalhou para trazer sua criação à existência. Há um trabalho óbvio do poder de Deus em Gênesis 1, quando seu plano se torna concreto nas coisas criadas.
Logos, ou seja, o plano de Deus, seu propósito e sabedoria se “fez carne” (veio em realidade, existência física) na pessoa de Jesus.
O fato de que Logos foi “feito carne”, mostra que não existia como “pessoa” assim antes e mostra também uma linguagem impessoal. Não há preexistência de Jesus nesta estrofe à parte de sua existência figurada como plano, propósito ou sabedoria de Deus para a salvação da humanidade. O mesmo é verdadeiro com a “palavra” escrita. Não teria uma preexistência literal – a existência como um espírito – ou livro - em alguma parte da eternidade anterior, porém entre em existência quando Deus dá a revelação às pessoas e a escreveram.
Diante do exposto, esta idéia de “preexistência” e “geração na eternidade” não tem apoio bíblico nenhum, inclusive no que se refere aos textos de Mateus e Lucas sobre a concepção de Jesus, pois mesmo que eles tenham algum caráter de interpolação (é o que estamos presumindo deste ensaio), não provam a preexistência de Jesus.
O texto de Mateus 1:18 nos manuscritos mais antigos está de acordo com a tradução:
“A origem [ou o começo, gênese] de Jesus Cristo”. E, ambas as variações [gênesis e gennesis] estão presentes na tradição textual. Isto implica que não foi um simples erro de ortografia ou coincidência da parte dos escribas. Mateus começa seu evangelho detalhando o “livro da genealogia (gênesis) de Jesus Cristo”, o que torna mais provável a continuação descritiva de uma origem (começo). Por isto a maioria dos eruditos textuais concorda que “nascimento” representa uma corrupção textual. [12].
Ao mesmo tempo, algo mais profundo pode estar passando aqui. Ambas as palavras genesis (com um n) e gennesis (com duplo n), podem significar “nascimento, origem”, sendo apropriada a este contexto. Então, por que os escribas parecem resistir à descrição original de Mateus como “gênesis” de Jesus? A resposta se contesta a si mesma. O texto original claramente nos diz que foi precisamente neste momento que Jesus veio a existir [Se Originou]. É fato que na narração de Mateus, aqui ou no restante do livro, não há sugestão de que Cristo existia antes de seu nascimento. Jesus foi concebido dentro do útero de Maria - ele começou ali como um feto, exatamente como qualquer outro ser humano.
“O relato da concepção e nascimento de Cristo não permite a idéia de que ele existia fisicamente antes disto. Por isso somos levados à conclusão de que na crença da “preexistência”, Cristo, de alguma forma, desceu fisicamente do céu e entrou no útero de Maria. Toda esta complexa teologia está bastante fora do ensino da Escritura. O relato do princípio da vida de Cristo não dá qualquer motivo para se pensar que ele deixou fisicamente o céu e entrou no útero de Maria. A falta de evidência disto é um grande “elo perdido” no ensino trinitariano”. [13].


O comentário de Maurice Wiles expõe de um modo significativo o que tem sido largamente a convicção entre um grupo minoritário de crentes:
Dentro da tradição cristã o Novo Testamento tem sido por longo tempo lido através do prisma dos credos conciliares posteriores ... Falar de Jesus como Filho de Deus  teve uma conotação muito diferente no primeiro século do que aquela que teve em Nicéia. Falar da preexistência de Jesus (na escritura) deveria provavelmente na maioria dos casos, ser entendida sobre a analogia da Torá, para indicar o propósito divino eterno que se está levando ao fim através dele em lugar de uma preexistência completamente pessoal”.
O problema para os trinitarianos e os não trinitarianos é que Eles buscam seu apoio no evangelho de João sob o risco de contradizer Mateus e Lucas. Há outra forma, sem dúvida, de ler o evangelho de João. Que Mateus e João concordam acerca de quem era Jesus está solidamente indicado por um simples fato: Mateus 16: 16-18 registra Jesus lançando as bases messiânicas da fé nele e João 20: 31 anunciam o mesmo propósito quando escreveram seu evangelho. Foi para demonstrar que Jesus é o Ungido, o Filho de Deus.
6.2 - FILIAÇÃO SEGUNDO O JUDAÍSMO
No judaísmo, o conceito de Deus gerar existe tão somente com respeito à expectativa messiânica. Para os judeus, não há conceito algum do Messias como filho de Deus no sentido físico, nem idéia de sua preexistência. A idéia de que o Rei, como representante terrestre da divindade era o “filho de Deus” era corrente no oriente antigo. No AT, Gennao é empregado geralmente para traduzir o hebraico Yalad (dar à luz) e ocasionalmente traduz como conceber. Duas passagens nos Salmos falam que Deus gerou o Rei-Messias (Heb. Yalad, Gr. Gennao) – Salmos 2:7 e Salmos 110:3;
Alguns estudiosos pensaram que existem paralelos no Egito e na Mesopotâmia que foram utilizados pelos israelitas. As idéias de Israel, no entanto, emanavam da sua fé em Yahvé. A filiação do rei israelita não tem nada a ver com a geração física nem com o pensamento de que através da entronização, o rei por algum modo entrasse na esfera do divino. O relacionamento entre Deus e o rei não tem fundamento na natureza do rei e o rei não é divino, mas é declarado como filho ao subir ao trono – por uma manifestação da vontade divina. É provável que quando os herdeiros de Davi acediam à autoridade real, a formula da adoção fosse solenemente pronunciada. (Sl. 2:7).
O sentido preciso, portanto, de gennao deve ser determinado pelo contexto, tanto na sua forma ativa quanto na passiva, sendo que se emprega com respeito ao pai bem como à mãe e também se emprega num sentido figurado ou estendido, como no Salmo 2:7, citado em Atos 13:33 e Hebreus 1:5 e 5:5,6;
O NT não aplica os Salmos 2:7 às narrativas do nascimento de Jesus na terra nem “na eternidade”, pois sempre que ele é citado, uma geração física e sexual é totalmente excluída. Atos 13:33 aplica as palavras “eu hoje te gerei” à ressurreição de Jesus.
6.3 - FILIAÇÃO SEGUNDO OS CRISTADELFIANOS
Para os cristadelfianos, Jesus teve sua origem no ventre de Maria e é por causa desta geração pelo espírito santo que ele é chamado Filho de Deus.
Robert Roberts (um dos pioneiros cristadelfianos) afirma que o conceito Trinitário e Unitário a respeito da natureza de Jesus Cristo está em discordância com a bíblia e que a verdade se acha no meio destes dois: Sobre o conceito Unitário, ele diz:
“O Unitário foge destes testemunhos negando a autenticidade dos dois primeiros capítulos de Mateus e Lucas. As razões para esta negativa são superficiais e insuficientes; E são francamente deficientes. A evidência que prova a autenticidade dos capítulos rejeitados é mais do que decisiva. É irresistível. Não deixa lugar a duvidas ou contradições. Existe a evidência unida de todos os manuscritos e versões disponíveis, apoiada pelo reconhecimento dos primeiros escritores cristãos, confirmada pelo caráter interno dos capítulos e a necessidade do acontecimento que eles narram para explicar o caráter e missão de Jesus de Nazaré. A divina paternidade de Jesus seguiria sendo uma verdade imutável, ainda que não existissem os registros de Mateus e Lucas”. (Grifos meus).
Robert Roberts continua sobre a paternidade de Jesus, dizendo:
“Sem duvida, mesmo a existência de Cristo não sendo inderivada, é mais diretamente divina que puramente humana. Um homem é uma incorporação da energia mortal de vida de seu pai. Jesus não nasceu da vontade da carne, senão de Deus. Foi gerado de Maria mediante o poder do espírito. Esta foi a origem do seu título “Filho de Deus”. Antes de sua unção, Jesus era simplesmente o “corpo preparado” para a divina manifestação que se realizaria através dele. A preparação deste corpo começou com a ação do Espírito sobre Maria e concluiu quando Jesus, tendo trinta anos de idade, foi aprovado na perfeição de um caráter impecável e maduro. Depois que o espírito desceu sobre ele, Jesus era a plena manifestação de Deus na carne”. [14] (grifos meus).
Para Robert Roberts o que preparou o corpo de Jesus para conferir impecabilidade e amadurecimento foi a ação do espírito de Deus sobre Maria, fazendo com que nela ele fosse gerado, porque antes de sua unção, Jesus era apenas um “corpo preparado”. Outro detalhe é que o autor não mostra quais evidências seriam comprobatórias de que os manuscritos disponíveis sobre a concepção e o nascimento de Jesus têm de fato credibilidade, mas apenas diz que estas evidências seriam apoiadas pelos primeiros escritores cristãos, uma possível referencia aos “pais da Igreja”, cujos textos são abundantes na apologia que fazem ao tema da concepção virginal. Já foi dito acima, que a redação de Mateus e Lucas não prova que a filiação divina de Jesus teria sido por causa de sua concepção virginal e nem que esta daria a Ele uma condição de impecabilidade. (Vide A Questão Genética). Lucas afirma categoricamente que Jesus seria “Filho” em seu batismo. (Vide Lucas 3:22).
7 – QUAL O SENTIDO DE IMPECABILIDADE?
É importante compreender o que significa o conceito de pecado original, para poder compreender o que significa “impecabilidade”, porque foi por este conceito que se originou a idéia de que o Messias não pecou por causa de sua origem sobrenatural no ventre de Maria, preservando-o, portanto do pecado original. A expressão “pecado original” é de origem latina e Agostinho foi responsável por seu êxito na história da doutrina e da catequese. O sentido de pecado original é que este afeta a humanidade em seu conjunto.
Diz o Catecismo da Igreja Católica:
De que maneira o pecado de Adão se tornou o pecado de todos os seus descendentes? O gênero humano inteiro é em Adão "sicut unum corpus unius hominis - como um só corpo de um só homem". Em virtude desta “unidade do gênero humano”, todos os homens estão implicados no pecado de Adão, como todos estão implicados na justiça de Cristo. Contudo, a transmissão do pecado original é um mistério que não somos capazes de compreender plenamente. Sabemos, porém, pela Revelação, que Adão havia recebido a santidade e a justiça originais não exclusivamente para si, mas para toda a natureza humana: Ao ceder ao Tentador, Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas este pecado afeta a Natureza humana, que vão transmitir em um estado decaído. É um pecado que será transmitido por propagação à humanidade inteira, isto é, pela transmissão de uma natureza humana privada da santidade e da justiça originais. E é por isso que o pecado original é denominado “pecado” de maneira analógica: é um pecado “contraído” e não “cometido”, um estado e não um ato. [15]
Como mostra o catecismo, o pecado de Adão foi um pecado transmitido por propagação e por via de geração à humanidade inteira. Esta visão, na verdade, foi uma leitura errada que Agostinho fez de Romanos 5:12, onde ele entendeu que aquilo que atingiu a todos por causa do pecado de Adão, não foi a morte, mas o Seu [de Adão] pecado. Esta interpretação está ligada à versão latina (chamada Vetus latina) que Agostinho tinha sob seus olhos. Quando Agostinho leu Romanos 5:12, entendeu que a morte passou a todos os seres humanos porque todos pecaram por intermédio de Adão. Mas não é isso que o versículo diz na língua original. O texto grego não permite essa interpretação, porque o antecedente “hamartia/pecado” é feminino, ao passo que “morte/thanatos” é masculino. Então argumentou que Romanos 5 e toda epístola aos romanos e os evangelhos ensinam que nós somos todos da raça de Adão e por isso herdamos sua culpa e sua corrupção. Por qual outra razão Jesus teria de nascer de uma virgem? Para Agostinho, explica, era porque a culpa e a corrupção do pecado são transmitidas as gerações seguintes pela procriação sexual e a natureza de Cristo só estaria livre do pecado se ele não fosse concebido pelo processo natural.
Tomás de Aquino disse: “No sêmen corporal esteve o pecado original como em uma causa instrumental, porque é pela força ativa do sêmen que o pecado é transmitido à prole ao mesmo tempo em que a natureza. Mas como em seu sujeito, o pecado original não pode estar na carne, mas somente na alma”. [16]
A teoria de que a concepção virginal, por si mesma, garantiu a isenção de Cristo do pecado original levanta mais problemas do que soluciona. Vincularia com o marido a transmissão do pecado original e teria eficácia tão somente se pudéssemos postular a mesma impecabilidade a Maria. Ela, tendo o “pecado original”, como a maioria do protestantismo acredita, inevitavelmente transmitiria essa condição ao seu filho. Foi conseqüência desta doutrina (pecado original) que a igreja católica desenvolveu o ensino do batismo infantil e desta também surgiu o dogma da “imaculada conceição de Maria”. Atribuíram tanto a Cristo como a Maria uma concepção tal que os preservaram do efeito do pecado original. Jesus, portanto, teria nascido de uma mãe humana sem participar da suposta culpa de Adão. Agostinho foi responsável por propagar esta visão da culpa transmitida aos descendentes por causa do pecado de Adão. Através dos reformadores ela encontrou seu caminho dentro de muitas igrejas protestantes. Ou seja, a natureza pecaminosa e enfraquecida de Adão foi passada para seus filhos através da lei da hereditariedade (pela força ativa do sêmen) e desde que os pecados deles eram o resultado do pecado de Adão, foi fácil para eles deslizarem para dentro do erro de acreditar que compartilhavam da mesma culpa.
É exatamente isto que sustenta a Igreja Romana. Este ponto de vista foi a definição que o Papa Pio IX deu ao dogma da imaculada conceição de Maria:
Que a mui bendita virgem Maria, no primeiro instante da sua concepção, mediante uma graça e privilegio do Deus onipotente e levando-se em consideração os méritos de Jesus Cristo, salvador da raça humana, foi conservada isenta de toda a mácula do pecado original, é uma doutrina revelada por Deus e deve, portanto, ser sustentada por todos os fiéis”.
Mas, mesmo assim, muitos perceberam que a impecabilidade de Maria necessariamente exigiria a impecabilidade dos pais e avós dela, ao infinito.
Em todo o Antigo Testamento, porém, não se fala em «transmissão hereditária» duma condição inicial pecaminosa; apenas há referência, no Gênesis, às conseqüências naturais daquele ato: a mulher passará a parir em dores e o homem dominá-la-á e o homem por sua vez tirará da terra o seu sustento com trabalhos penosos e suor do rosto, e a terra produzir-lhe-á espinhos e abrolhos (Gênesis 3, 16-19). O texto bíblico nos diz que Adão e Eva não foram tirados do jardim do Éden porque pecaram (observe, por favor, que na primeira vez em que a Bíblia utiliza o termo “pecado”, não o faz em referência a Adão e Eva. Esta se refere à inveja de Caim contra Abel em Gênesis 4:7). O que despojou Adão e Eva do jardim do Éden foi a Árvore da qual Deus não queria que eles comessem. Esta era a Árvore da Vida. A crença de que eles trouxeram morte ao mundo e que morremos porque eles pecaram é incorreta. Como questão de fato bíblica, uma pessoa não pode morrer como castigo pelos pecados cometidos por outra. Morremos porque a morte é uma parte natural da existência e este é o nosso destino desde a criação dos primeiros seres humanos. Portanto, Adão e Eva comeram da fruta da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal conscientemente, mas Deus não os tirou do jardim por esta razão. Deus os tirou dali para evitar que eles comessem do fruto da Árvore da Vida e se tornassem imortais.
Para Pelágio o pecado original não tem tanta importância para o resto da humanidade, diríamos, não tem nenhum poder hereditário. O pecado de Adão foi só seu; a humanidade não tem que pagar por isto. É impossível, para Pelágio, a alma trazer consigo algo que não é culpa sua, pagar por algo que não cometeu. Deus não faria isso com os homens, criar uma alma imediatamente manchada. O que nós herdamos de Adão foi somente o seu mau exemplo, a sua desobediência. Adão foi criado como qualquer outro homem, com vontade (concupiscência), mortal, sujeito às dores, males. Adão foi criado livre. Portanto, a morte não é castigo do pecado, pois Adão e todos os seus descendentes morreriam, mesmo que ele não tivesse pecado. Morrer faz parte da condição humana.
No Novo Testamento tão-pouco há referência a uma condição pecaminosa hereditária. O eminente teólogo jesuíta Karl Rahner (1904-1984), um dos mais conceituados teólogos do século 20, acentua categoricamente que não se encontra em nenhum dos Evangelhos a idéia de que o estado atual da humanidade seja devido ao «primeiro pecado». Já no século 18 o Iluminista Voltaire dizia o mesmo, com a veia satírica que o caracteriza: «Em suma, os judeus conheceram o pecado original tanto quanto conheceram as cerimônias chinesas; e, embora os teólogos costumem encontrar tudo o que querem na Escritura, podemos garantir que um teólogo razoável jamais encontrará aí esse mistério surpreendente» (Voltaire 1964, 310-311).
Podemos com o que foi dito acima entender que o efeito da doutrina do pecado original e da concepção virginal, ao contrário, remove Cristo totalmente da família de Adão, porque se Jesus foi gerado (ou encarnado) de uma maneira especial (sobrenatural), que o preservou da corrupção do pecado original de Adão, ele não pode ser “semelhante a nós em todas as coisas” (Hebreus 2:17). Era necessário que Jesus tivesse uma natureza humana exatamente igual à nossa e nascido exatamente como nós.
Hebreus 2:11 diz: “Tanto o que santifica como os que são santificados, vêm todos de um só. Por esta causa Jesus não se envergonha de lhes chamar irmãos”.
Irmãos são todos de uma mesma carne e natureza familiar. Hebreus 2:16 diz: “Pois na verdade Ele não tomou sobre Si a natureza de Anjos, mas Ele tomou sobre Si a descendência (Gr. Spermatos) de Abraão”.
Veja que o escritor de Hebreus sabe que a natureza do Messias era a mesma traçada dos antepassados, através da semente (descendência) de pai para Filho. Hebreus usa a mesma palavra grega (Spermatos) que Paulo usa em Romanos 1:3 e 2 Timóteo 2:8, quando enfoca a descendência davidica de Jesus. E concorda plenamente com o versículo de abertura de Mateus 1:1.
Jesus como descendente de Davi herdou sua natureza segundo a carne, mas não cedeu à fraqueza inerente desta natureza, pois embora tentado não respondeu com um único grau de indulgência a qualquer dessas tentações. Estar sujeito ao pecado não é ser culpado deles. Tentação não é pecado. Ele foi tentado da mesma forma que somos, todavia ele nunca pecou. (Veja Hebreus 2:14). Se Jesus tivesse qualquer vantagem sobre nós, por menor que fosse, penso que realmente não se qualificaria para ser o Messias e aquele que trouxe a salvação que vem de YaHVéH.
Robert Roberts (pioneiro cristadelfiano), discorrendo sobre a natureza de Jesus, diz:
Se Cristo houvesse somente sido um filho de Adão, haveria sido um pecador e, portanto, inadequado para propósitos expiatórios. Por outro lado, se houvesse estado revestido de natureza angélica ou imaculada, haveria sido igualmente desqualificado, posto que, era necessário que a natureza pecaminosa estivesse nele. A combinação da condenada natureza humana com a impecabilidade pessoal se alcançou mediante o poder divino que gerou um filho da substancia de Maria. Deste modo se produziu um “cordeiro de Deus” sem pecado por parte de sua paternidade e sem duvida herdando a pecaminosa natureza humana de sua mãe”. [17]. (grifos meus).
Vejam que o Sr. Robert entende que o que dá a Jesus o poder de não pecar (impecabilidade) é sua geração divina no ventre de Maria. Ele afirma que Jesus seria um pecador se fosse filho (biológico) de Adão. Mas, como poderia esta afirmação estar em concordância com Hebreus 2:11,16,17 e com a genealogia? Outro detalhe é que podemos verificar que esta idéia é uma cópia bem sutil da doutrina agostiniana do pecado original. Ou seja, Jesus, teria que ter nascido de uma mãe humana sem participar da suposta culpa de Adão e isso só foi possível através da “geração pelo espírito santo”. É preciso compreender que impecabilidade não está relacionada à constituição da “natureza humana”, porque mesmo Cristo possuindo uma natureza humana pecável (ou sujeita ao pecado) em sua constituição, era, no entanto incapaz de pecar. E isto não era devido à alguma geração sobrenatural. A condição de “pecabilidade” ou não de Cristo dependia da vontade e não da natureza. E sua vontade sendo submissa ao Pai sempre prevaleceu.
Louis Berkoff diz: “Os mais antigos teólogos compreendem que é impossível ter uma correta concepção do pecado sem vê-lo em relação a Deus e Sua vontade e, portanto, acentuavam este aspecto e normalmente falavam do pecado como “falta de conformidade com a lei de Deus”. É, sem duvida, uma correta definição formal do pecado”.
Impecabilidade significa que o Senhor Jesus jamais fez alguma coisa que desagradasse a Deus, que violasse a Lei de Deus ou que em algum momento tenha deixado de demonstrar a glória de Deus em sua vida (João 8:29). Desafiou seus inimigos a provar que ele era pecador (João 8:46). Declarou que guardava os mandamentos do Pai (João 15:10) e que fazia sempre o que lhe agradava. Nos julgamentos que enfrentou e durante sua crucificação, foi considerado 11 vezes inocente. Além disso, embora freqüentasse o templo, não existe registro de nosso Senhor oferecendo algum sacrifício, porque ele não tinha pecados. As escrituras confirmam totalmente que Cristo nunca pecou. Para salvar a Si mesmo do pecado e dos perigos da carne, Ele dependeu constantemente e unicamente do poder de Seu Pai. Foi dessa forma que ele superou o diabo (Hebreus 2:14) e viveu uma vida de perfeita obediência. Foi por estar dependente totalmente do Espírito de Deus que ele venceu a tentação. Começando com o relato da tentação de Cristo, infere-se que ele foi capaz de pecar. Ser humano é ser tentado e tentação real pressupõe a possibilidade de pecado. Cristo não poderia ser Deus, pois Deus sim é incapaz de pecar. As tentações implicavam em conflito real. Eram experimentadas por Cristo, de maneira profunda, como algo que o puxava para longe da vontade do Pai. Ele orou na crise da tentação e refugiou-se junto a Seu pai em busca de força. Sua “impecabilidade” consistia em fazer a vontade do Pai.
O teólogo Charles Hodge representa o ponto de vista da pecabilidade de Cristo, dessa forma:
Tentação implica a possibilidade de pecar. Se a luz da constituição de sua pessoa era impossível que Cristo pecasse, então sua tentação não era real, mas sem propósito e ele não poderia solidarizar-se com seu povo”.
Willian G. T. Shedd escreveu: “Existe uma objeção à doutrina da impecabilidade de Cristo que é incoerente com a sua capacidade de ser tentado. Se uma pessoa não pode pecar, então se crê que ela não pode ser tentada a pecar. Isso não é correto. A capacidade de ser tentado depende de sua susceptibilidade ao pecado, enquanto a impecabilidade depende da vontade de pecar [...] Aquelas tentações eram muito fortes, mas se a autodeterminação de sua vontade santa era mais forte do que elas, então as tentações não induziriam ao pecado e ele seria incapaz de pecar. Ao mesmo, ele seria apenas capaz de ser tentado”.
Veja que todas estas afirmações apontam para o mesmo centro: A “impecabilidade” de Cristo dependia de sua “vontade” e poder de “decisão” e não de sua natureza sobrenaturalmente gerada. Mas, as escrituras continuam dizendo: Cristo não pecou. Sua autodeterminação o tornava superior ao grau de tentação que o afligia. O propósito de Cristo ter uma natureza exatamente igual à nossa era pelo motivo de que somente assim poderia redimir o homem caído. Para fazer isto Ele tinha que “condenar o pecado na carne” e isto só poderia ser feito conquistando através da obediência aquela carne pecaminosa e submetê-la à morte (Romanos 8:3). Como Jesus tirou o pecado do mundo? Na mesma carne que a nossa, pois ele não poderia “condenar o pecado na carne” em uma carne “sem pecado”. O Fato de Cristo ter sido apenas um ser humano, sem existência anterior imortal, não reduz também o preço da salvação, pois sendo Cristo nosso representante, sua morte abriu-nos o caminho até Deus.
A versão NVI de Romanos 8:3 coloca muito bem essa questão: “Porque, aquilo que a lei fora incapaz de fazer por estar enfraquecida pela carne, Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança do homem pecador, como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne, a fim de que as justas exigências da lei fossem plenamente satisfeitas em nós, que não vivemos segundo a carne, mas segundo o Espírito”.
Muitos afirmam que os Salmos 51:5 ensinam o pecado original. Mas, observe que após todos os delitos do salmista, agora ele se vê num estado miserável e de culpa, onde ele reflete que desde o seu nascimento já carregava todos os delitos. Sua linguagem revela e expressa um conceito pessoal e não universal, pois a sua fala está relacionada a uma experiência pessoal. Esse é o seu conceito sobre o pecado, ele acredita carregar o pecado desde sua concepção, mas não que ele cria numa teologia acerca do pecado original. Usa essa linguagem poética pelo peso da culpa que carrega.
8 - CONCLUSÃO
Procuramos neste ensaio, abordar questões fundamentais que dizem respeito à genealogia de Mateus e Lucas e relacioná-las com o relato da concepção virginal de Jesus. Também procuramos citar eruditos bíblicos, cujo conhecimento das línguas originais é de extrema importância. Como disse no inicio, meu objetivo primordial é levantar questões da autenticidade ou não destes relatos em comparação com o conteúdo global do Novo Testamento e com a idéia de como funciona a genealogia na bíblia. Este conhecimento, em minha opinião, é de muita valia, pois estamos tentando retratar o Messias de acordo aos dois testamentos que falam sobre Ele, tirando-o do meio dos escombros em que a tradição cristã o colocou. Muitos vão fazer afirmações do tipo: Isto é heresia! Este argumento é fraco! Não há como provar o que você diz!
As evidencias estão aí para serem analisadas. Não importa. Muitos que foram denominados de herejes e não-ortodoxos seguiam as escrituras sem duvidar. Preferimos ser “não-ortodoxos”, mas seguir as pisadas do Messias Judaico, a ser “ortodoxos” e seguir um Messias criado como cópia de idéias oriundas dos mitos pagãos, as quais se cristalizaram no que hoje é conhecido como Igreja católica apostólica Romana.

Que YaHVé abençoe a todos!

MARCELO ALEXANDRE DO VALLE



BIBLIOGRAFIA:
[1] Carl Gustav Jung (1875 – 1961) - Psiquiatra e Psicólogo Suíço.
[2] Rudolf Bultman (1884 – 1976) – Teólogo Alemão
[4] Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento – 2ª Ed. São Paulo Vida Nova, 2000. COENEN, Lothar. BROW, Colin.
[5] VERMES, Geza. As várias faces de Jesus. Páginas 251, 252.
[6] MOUNIER, Bernard. O Nascimento dos Dogmas Cristãos – páginas 33, 34
[7] EHRMAN, Bart D. - O que Jesus disse? O que Jesus não disse? Quem mudou a bíblia e por quê? São Paulo: Prestígio, 2006
[8] Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano II, n. 10
[9] FERREIRA, J. Freitas - Conceição Virginal de Jesus – páginas 250, 251
[11] BROWN, Raymond. O Nascimento do Messias, página 291.
[12] Dicionário Vine – Nascimento C1. (Gênesis, linhagem, nascimento (de ginomai, vir a ser).
[13] HEASTER, Duncan – www.biblebasicsonline.com/portuguese
[14] ROBERTS, Robert - La Cristandad Extraviada – cap. 6 (Dios, Angeles, Jesucristo y La Crucifixión).
[15] Catecismo da Igreja Católica – Art. Pecado Original p. 29 § 404
[16] Summa Teológica – São Tomás de Aquino
[17] ROBERTS, Robert - La Cristandad Extraviada – cap. 6 (Dios, Angeles, Jesucristo y La Crucifixión).



5 comentários:

  1. Não podemos nos esquecer de que a Bíblia nos ensina que Maria não gerou a Jesus, não tendo havido qualquer participação humana na geração do Filho de Deus.
    A Bíblia nos revela que Jesus foi gerado pelo Espírito Santo (Mt 1:18,20), de sorte que Maria foi tão somente a gestora (fez a gestação), como uma espécie de barriga de aluguel; até porque, se tivesse havido participação dela, Jesus teria nascido com a semente do pecado (Rm 5:12).
    Por isso entendemos que Jesus foi, de fato, o segundo Adão (1 Co 15:45), ou seja, um verdadeiro homem, gerado em estado de perfeição, exatamente como o primeiro (sem pecado), à imagem e semelhança de Deus (como todos os Seus atributos morais), mas sem ser onipotente, onipresente nem onisciente, pois, caso contrário, não poderia ter sido tentado e não poderia ter morrido pela humanidade.

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    1. Se jesus é deus como ensinam as religiões, e ele deixou a onisciencia, onipotencia e onipresença, ele deixou de ser deus. LOUCURA!

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  2. Contaminado, por séculos, com a heresia católica da trindade, quem é que pode enxergar outra coisa?
    De início, eu diria que não estou comprometido com os concílios católicos que, no passado, decidiam o que era e o que não era heresia. Esses padrecos é que eram hereges, pois se julgavam possuidores de autoridade divina para definir o que era certo e o que era errado.
    Em segundo lugar, não precisamos ir muito longe pra entender que, se Jesus tivesse esses atributos (onipresença, onipotência e onisciência), Ele jamais poderia ter morrido, pois Deus é imortal.
    Em terceiro lugar, a própria Bíblia é que nos mostra que Ele não os possuía:
    1 – Onisciência: “Mas daquele dia ou daquela hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão só o Pai” (Marcos 13:32);
    2 – Onipresença: “Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu; e, por vossa causa, folgo de que eu lá não estivesse, para que creiais; mas vamos ter com ele” (João 11:14,15); e
    3 – Onipotência: “E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mateus 28:18).
    Mas, como não sou o dono da verdade (como se achavam os padrecos), estou aberto ao diálogo.
    Deus te abençoe!!!

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  3. Alguém poderia perguntar: se, quando a Palavra de Deus se fez carne, Ela esvaziou-se dos atributos (exceto os morais), então como Jesus realizava os milagres, prodígios e maravilhas, e como Ele conhecia os acontecimentos futuros, os pensamentos e os sentimentos humanos?
    Pelo simples fato de que cumpriu-se n’Ele o que estava profetizado em Is 11:2, Is 42:1 e Is 61:1; ou seja, quando Jesus foi batizado (Mt 3:16 e Lc 3:22), o Espírito Santo (a plenitude da divindade) desceu sobre Ele e lhe deu poder para realizar os sinais e conhecer os mistérios dos corações dos homens, bem como as profundezas de Deus (Jo 8:55).
    Confirmando essa verdade, a Bíblia não nos mostra nenhuma manifestação sobrenatural realizada por Jesus Cristo antes do batismo, pois Ele era um ser humano perfeito, como todos os demais, vazio da Sua glória.
    Jesus mesmo disse, em certa ocasião, que não era Ele próprio quem realizava as obras, mas o Pai que estava n’Ele (Jo 14:10-11). Será que Ele teria mentido?

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  4. Quem é Jesus Cristo?
    A Bíblia diz que Jesus é a Palavra de Deus (Ap 19:13), ou seja, o VERBO ETERNO que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:14).
    O Salmo 33:6 nos esclarece que a Palavra de Deus é o Espírito que saiu da boca de Deus e criou todas as coisas.
    Mas, que espírito teria saído da boca de Deus, senão o Espírito Santo de Deus?
    Logo, Palavra de Deus e Espírito Santo de Deus são a mesmíssima e única pessoa.
    A Bíblia também afirma que Deus é Espírito (Jo 4:24).
    Mas, que espírito seria Deus, senão o Espírito Santo?
    Logo, Deus e Espírito Santo são a mesmíssima e única pessoa.
    Portanto, podemos concluir que a Palavra o Espírito e Deus são a mesmíssima e única pessoa, caindo por terra a doutrina herética da trindade, postulada como um artigo de fé pelo clero romano, em 325 no Concílio de Niceia.

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